
…mas eventualmente lá encontrou o seu caminho por entre entre a euforia do regresso.
Chegar a casa depois de uma viagem nunca é penoso, quanto mais não seja pelo alívio de chegar após quase dois dias entre voos e terminais de checkin, até porque a minha antipatia por viajar de avião não tem parado de aumentar. É aquele calorzinho no estômago de quando se volta a algo que é familiar, o mesmo que se tem quando se regressa a uma cidade conhecida e reconhece as ruas por onde se caminhou (mais sobre isto um destes dias), o voltar ao porto de abrigo e ter tempo para processar e digerir todas as memórias que se foram acumulando, algo que raramente se consegue fazer quando se está em movimento.
O que é realmente doloroso é regressar à rotina, a ter dois dias iguais, dois dias seguidos a almoçar no mesmo local, e em nenhum deles sem comer algo gorduroso ou espetado num pau vendido numa banca no passeio, dois a fazer o mesmo trajeto em piloto automático, dois dias sem que ninguém alguém na rua sorria e diga “Olá!” ou dois dias sem regatear o preço para ser transportado em cima de uma velha pick-up. O complicado é incapacidade de explicar que um autocarro chegar hora e meia atrasado numa viagem de dez horas até é bom, ou não importar ter ficado preso em algum lado por causa da chuva diluviana da época das chuvas do Sudoeste Asiático, mesmo que isso tenha significado a maior molha dos últimos vinte anos, esta incapacidade de “contar como foi” que é comum a tantos.
É regressar a uma realidade hermeticamente fechada, padronizada, ordenada, rotulada e dentro do prazo de validade. O choque de perceber que nada mudou, que tudo para trás ficou igual, não só desde que se partiu mas se calhar desde sempre.
Para a semana vou para o trabalho à mesma hora de sempre, mas desta vez vou por um caminho diferente!
Más notícias: a neura custa a passar… a minha estratégia é começar a planear a próxima viagem. E a seguinte e a outra depois dessa… Traz uma sensação de desenraizamento e de movimento, mesmo quando se está no mesmo lugar, com os mesmos problemas desinteressantes…
É verdade, é a minha estratégia do costume. Mas fico com a sensação que se vai deixando muita coisa por resolver entre viagens.