Há uma minoria que não gosta de futebol. Para essa minoria, mesmo que não o digam, a derrota de ontem foi uma boa notícia. Eu compreendo-os. Nada mais desesperante do que ver um país parado, excitado, obcecado, vidrado com uma coisa que não nos interessa. Liga-se a televisão e é Mundial. Muda-se de canal e é Mundial. Vai-se ao café e é do Mundial que se fala. Chega-se ao emprego e o Mundial é o tema de conversa.
Também eu, que gosto de futebol e sigo a selecção, andava secretamente a desejar que o Mundial acabasse, ou pelo menos para nós, para voltar ao país real e terminar a overdose de directos e reportagens, do que comeram os jogadores, os treinos, as saídas de autocarro, e também as chegadas de autocarro, de onde vieram os donos da mercearia onde a selecção se abasteceu, dos muitos treinadores de bancada que opinam e mudam de opinião entre as goleadas e os nulos, e o fazem num canal de televisão ou no café da esquina. Curiosamente neste Mundial anseio pela única calmaria, o olho do furacão: os jogos, a única altura em que o que apenas conta a bola, a táctica e os protagonistas contam, onde todo este campeonato paralelo não entra.
Mesmo que preferisse que esta pausa da realidade durasse mais algum tempo, o mais possível, resta-me a consolação que o circo vai acalmar e agora sim o Mundial de futebol pode começar.
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